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Da adrenalina à destruição: Entenda a formação das ondas e os impactos de fenômenos naturais

Baixada Santista, no litoral de São Paulo, já registrou oscilações com mais de quatro metros nos últimos 30 anos. Ondas de até quatro metros atingiu grup...

Da adrenalina à destruição: Entenda a formação das ondas e os impactos de fenômenos naturais
Da adrenalina à destruição: Entenda a formação das ondas e os impactos de fenômenos naturais (Foto: Reprodução)

Baixada Santista, no litoral de São Paulo, já registrou oscilações com mais de quatro metros nos últimos 30 anos. Ondas de até quatro metros atingiu grupo em Guarujá (SP), em 14 de agosto de 2024 Iolanda Teixeira As ondas são oscilações da superfície da água causadas pela transferência de energia através do meio aquático. Elas podem sofrer impactos de fenômenos naturais e atingir alturas elevadas, o que as tornam queridas para alguns e perigosas para outros. As ondulações, por exemplo, são capazes de gerar adrenalina em surfistas, mas paralisam as atividades do Porto de Santos, no litoral de São Paulo. ✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp. Ao g1, especialistas e profissionais que 'vivem' nas águas explicaram o que são as ondas e os impactos delas aos seres humanos e ao meio ambiente. Confira: Ondas 🤔O que são? As ondas são oscilações da superfície da água causadas pela transferência de energia através do meio aquático. Ressaca na Ponta da Praia, em Santos (SP), em 29 de julho de 2021 Vanessa Rodrigues/AT 🏄Como são formadas? Diversos fatores podem formar diferentes tipos de ondas, sendo alguns deles: Segundo o especialista em hidrodinâmica costeira e doutor em Ciência Ambiental pela Universidade de São Paulo (USP), Renan Ribeiro, aquelas que costumamos ver nas praias são formadas pela ação dos ventos na superfície do mar. "Normalmente, as ondas que chegam na costa com maior energia são formadas a quilômetros de distância", explicou ele. Já as ondas com menor energia, conhecidas como "mar mexido", duram por pouco tempo e são formadas pelo vento local [fluxos de ar que ocorrem em uma determinada região durante um período específico do ano]. Elas também podem ser formadas por abalos sísmicos submarinos, também conhecido como maremoto - provocados pelo deslocamento das chamadas placas tectônicas. "Não é comum esse tipo de geração de onda na costa brasileira", destacou Renan. A oceanógrafa, mestranda no programa de pós-graduação interdisciplinar em ciência e tecnologia do mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) da Baixada Santista (SP), Mariana Amaral, acrescentou que as ondas também podem ser formadas pela força da atração entre a Lua, Sol e Terra. 📏Como é feita a medição? Na Baía de Santos, de acordo com Renan Ribeiro, a Praticagem de São Paulo utiliza um ADCP [Acoustic Doppler Current Profiler -- em português, perfilador de acústico de correntes por efeito Doppler]. Este equipamento mede o movimento das ondas do mar a partir de um princípio físico de propagação de ondas sonoras, conhecido como efeito Doppler. Ressaca marítima em Santos (SP) Vanessa Rodrigues/A Tribuna Jornal O Núcleo de Pesquisas Hidrodinâmicas (NPH) da Universidade Santa Cecília (Unisanta) usa os dados coletados pelos instrumentos ADCPs da Praticagem para calcular a altura significativa (Hs), que é a média do terço superior das maiores ondas, e o período de pico, ou seja, o intervalo de tempo entre as cristas das ondas mais energéticas. Apesar disso, também existem outras opções: Em alto-mar ou mesmo na Baía de Santos, segundo Renan, podem ser usadas boias oceanográficas com sensores que detectam o movimento da superfície do mar. Em local mais próximo da costa, de acordo com ele, é possível utilizar sensores de pressão que medem diretamente as variações na altura. Segundo o especialista, há a possibilidade de realizar a medição por meio de sensores a bordo de satélites localizados a quilômetros de distância da superfície do mar. Maior onda registrada Praia de Santos, SP g1 Santos Em 21 de agosto de 2016, o NPH-Unisanta registrou ondas de 4,25 metros de altura na região da Ilha das Palmas, em Guarujá (SP). De acordo com o laboratório, este foi o maior evento dos últimos 30 anos na Baixada Santista (SP). Segundo o NPH-Unisanta, a altura das ondas naquela ocasião foi causada por uma frente fria associada a um ciclone extratropical -- sistema de baixa pressão atmosférica formado pelo contraste de temperaturas de diferentes massas de ar (quente e fria). "Um evento meteoceanográfico extremo". Tsunamis e terremotos Além dos ciclones, as ondas do litoral de São Paulo também podem ser impactadas por tsunamis e terremotos, mesmo que estes fenômenos não ocorram no Brasil, uma vez que o país está localizado longe das placas tectônicas. "Não [impacta] no sentido catastrófico", explicou Renan Ribeiro. "O impacto em regiões como o litoral de São Paulo costuma ser muito mais sutil devido à distância dos principais epicentros de tsunamis. Embora possamos detectar a influência", afirmou o especialista. De acordo com ele, os efeitos dos tsunamis e terremotos podem ser vistos em pequenas variações no nível do mar ou alterações na frequência das ondas, sem grandes riscos à infraestrutura costeira ou à população. Em 11 de março de 2011, um terremoto de magnitude próxima de 9 causou um tsunami com ondas de 14 metros Getty Images/BBC Velocidade À equipe de reportagem, a oceanógrafa Mariana explicou que a velocidade das ondas depende da região e das condições locais do dia, como altura, período, direção e energia das oscilações. Segundo o especialista Renan, as ondas costumam ter um período de dez segundos no litoral do estado. Por este motivo, chegam em local próximo à costa com aproximadamente 25 Km/h, enquanto se propagam em uma velocidade de 50 Km/h em mar aberto. Perigos ➡ Renan afirmou que ondas com maior energia podem dificultar ou até inviabilizar a navegação. ➡ Para o meio ambiente, o especialista afirmou que as ondas podem influenciar a erosão costeira, quando a praia perde mais sedimentos do que recebe. "Causando assim a perda de habitat de algumas espécies", destacou ele. ➡ Mariana acrescentou que as construções humanas estão cada vez mais próximas da área costeira que naturalmente já tem uma dinâmica de ondas. "O perigo é a força da onda atingir essas construções e causar grandes danos", reforçou ela. Presidente da Praticagem de São Paulo, Fábio Mello Fontes Praticagem de São Paulo/Divulgação O Presidente da Praticagem de São Paulo, Fábio Mello Fontes, é prático da região da Baixada Santista, e nos portos de Santos e São Sebastião. Esta profissão consiste em acompanhar e auxiliar o comandante durante toda a manobra do navio, que é combinada anteriormente entre eles. Para os práticos, de acordo com Fontes, o ideal é que não haja ondas. "As ondas dificultam, em um primeiro momento, o embarque e o desembarque do prático e, em um segundo momento, a manobra em si. Quanto maior a altura da onda, maiores são os riscos", explicou ele. Quando as ondas alcançam mais de três metros de altura, os portos são fechados e as manobras canceladas por determinação da Capitania dos Portos de São Paulo até que as condições fiquem mais seguras. Impactos positivos "Graças às ondas o oceano é tão dinâmico e está sempre em movimento", afirmou a oceanógrafa. Confira os impactos positivos das ondulações, de acordo com os especialistas: ➡ Ajudam a mistura da água do mar, transportando nutrientes das camadas mais fundas para a superfície; ➡ Auxilia no transporte de animais; ➡ Ajudam a oxigenação da água do mar; ➡ Atraem surfistas, e podem ser consideradas turismo e lazer. Professor de Educação Física e coordenador da Escola de Surf da Prefeitura de São Vicente (SP), Ricardo de Mello Martins Arquivo pessoal O professor de Educação Física e coordenador da Escola de Surf da Prefeitura de São Vicente (SP), Ricardo de Mello Martins, é um dos apaixonado por ondas. Ao g1, ele explicou que a altura ideal das oscilações varia de acordo com o nível e o gosto de cada praticante. Por exemplo, os iniciantes costumam começar em ondas pequenas a médias, de 0,5 a 1 metro, enquanto os avançados podem arriscar entre 1,5 e 2 metros. De acordo com o professor, o impacto da onda é determinante para o nível de performance. ➡ Ondas mais longas ajudam o surfista a desenvolver um maior número e variações de manobras. ➡ Ondas tubulares possibilitam o praticante performar e dominar as oscilações. "Ondas fortes e altas geram mais risco e a famosa adrenalina, o que a maioria dos surfistas de alto rendimento gostam e procuram", afirmou Martins. "Somente quem começa a praticar que consegue sentir e compreender a força das ondas e das correntezas do mar", acrescentou ele. VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos